RESENHA – POR AMOR E POR FORÇA: ROTINAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
MARIA CARMEM SILVEIRA BARBOSA
Escrito por Maria Carmem Silveira Barbosa, este livro com 240 páginas, editado pela Editora Armed, Porto Alegre, em 2006 e reimpresso em 2007, foi escrito a partir da tese de doutorado que a autora defendeu, na Unicamp, em 2000.
Nele Maria Carmem estuda a rotina na Educação Infantil, desde sua vertente histórica à vinculação autobiográfica que o tema tem com a autora. Assim ela inicia o livro contando-nos, já na apresentação, como desde criança, sentia uma curiosidade de descobrir como a rotina influenciava a vida das pessoas, em especial, das crianças.
A autora do livro nos relata como, a partir de 1970, os governos aumentavam os investimentos em creches e pré-escolas, demanda de diversos movimentos sociais, à época. Vários projetos para a educação de crianças pequenas (0 a 6 anos) foram desenvolvidos com ações que envolviam vários Ministérios e a L.B.A.(Legião Brasileira de Assistência)
De acordo com Maria Carmem, é a Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/1996)-LDB- que regulamenta o tipo de instituição com a faixa etária das crianças pequenas. Esta padronização define também qual proposta de trabalho será adotada por esta ou por aquela instituição.
Então a Creche é a instituição que atende as crianças de 0 a 3 anos e a pré-escola atende as crianças de 4 a 6 anos.
Outro avanço, no que se refere aos direitos das crianças foi a promulgação da Constituição Federal, em 1988, onde as crianças e jovens são considerados sujeitos de direitos. Ali também se assegura o direito de meninos e meninas à educação gratuita de 0 a 6 anos, em creches e pré-escolas. Outro fator importante para atender as necessidades da sociedade, no que tange a educação de crianças pequenas, foi, opina a autora, a inclusão da educação infantil na L.D.B., como secção autônoma.
No entanto o mesmo governo que apoiou a aprovação da Lei, criou politicas que não favoreciam a qualificação da educação infantil, a secundarizando nos investimentos das verbas públicas. A ausência da Educação Infantil na distribuição das verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) era citada como exemplo. Felizmente, hoje, a Educação Infantil já está incluída como parte integrante da Educação Básica, no Brasil, recebendo verbas do citado Fundo.
Outro destaque de Maria Carmem, que demonstra que se criava uma nova concepção a respeito dos direitos das crianças, foi a transferência da responsabilidade pelo atendimento das crianças de 0 a 6 anos das áreas da saúde e assistência social para a educacional
As publicações e pesquisas, n o campo acadêmico, também contribuíram para a melhoria do atendimento às crianças de 0 a 6 anos, no Brasil.
Neste ponto, Maria Carmem cita vários autores que desde o final do século XIV e inicio do século XX discutem a ciência e os caminhos que esta vem tomando neste período, chamado de modernidade. E uma dos ramos a se produzir cientificamente, mais complexos, é a pedagogia.
A autora, apesar de se cercar de todos os cuidados, que classificar este estudo como pedagogia da educação infantil é extremamente necessário.
Pedagogia da Educação Infantil tem como centro teórico a educação das crianças pequenas e diferem das do ensino fundamental, que se baseiam no ensino e na sala de aula. Na educação infantil estas pedagogias são constituídas de relações educativas entre crianças-crianças-adultos.
Feito este apanhado histórico sobre a educação infantil e suas pedagogias peculiares, Maria Carmem, nos fala de como ela pretendia contribuir para o campo das pesquisas da pedagogia da educação infantil: provocando, com este Livro, reflexões e questionamentos sobre as rotinas, em especial, as da Educação Infantil.
Mas, o que são mesmo rotinas?
Nas palavras da autora, “rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação infantil, estruturaram para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano, nas instituições que atendem esta faixa etária”. E recebe várias denominações: horário, emprego de tempo, plano diário, jornada, etc.
Em todos os livros pesquisados pela autora, sobre creches e/ou pré-escolas, foi encontrada “as rotinas”. Elas têm grande destaque, sendo capítulos de Livros, fascículos de publicações, tema de formação de professores, etc.
Em seu Livro, é salientado que há diferenças entre cotidiano e rotina, apesar de inicialmente serem usados como sinônimos. Define-se rotinas como produtos culturais criados com objetivo de organizar a cotidianidade.
Após algumas considerações sobre a origem e o significado linguístico de rotina, a nossa autora nos faz uma pergunta:
Por que rotinas? E responde: porque sim. Isto é, não importa e ninguém irá descobrir o significado único desta palavra, mas, fato é que as rotinas são necessárias para estruturarem a organização das instituições e normatizar a subjetividade das crianças e dos adultos que frequentam espaços coletivos. No caso da educação infantil este papel é cumprido pela rotina pedagógica.
Antes de entrar nas considerações sobre a utilização e utilidade das rotinas, a autora procura historiar o surgimento das rotinas em diferentes campos sociais.
Esta história começa no século IV, quando, com o crescimento do cristianismo no ocidente, a Igreja Católica Apostólica Romana, impôs rigorosa disciplina eclesiástica para controlar seus fiéis.
Na Idade Média, as instituições religiosas precisavam de ordem e previsibilidade. A rotina se tornou imprescindível.
A partir de 1539, Inácio de Loiola pensou em como rotinizar o coletivo, as relações hierárquicas, as obrigações e a vida em grupo. Criou as Constituições.
Durante a Reforma, trouxeram a vida dos monastérios para a vida cotidiana da população, nas famílias.
Pode-se afirmar, segundo Maria Carmem, que o mundo das religiões cristãs fundamentou as rotinas utilizadas nas creches e pré-escolas.
Então as rotinas tiveram, através dos tempos, variados “motivos” para serem aplicadas, desde o controle do corpo através das rotinas de higienização até o controle do corpo e do espírito, através das rotinas das fábricas, sob a justificativa de que o Brasil e o mundo tinham que rotinizar de forma rígida o trabalho para, assim, alcançar o progresso. Esta justificativa serviu para se introduzir a rotina nas escolas.
A autora explica como e porque é institucionalizada e rotinizada a educação na infância, mostrando que ela se modificou, atingindo um caráter mais ou menos rígido, à medida que se formava a concepção de infância na sociedade ocidental moderna.
Neste particular, são importantes na construção das rotinas na educação, principalmente para as instituições que cuidavam de crianças menores, as condições sociais e econômicas dos países, os papéis sociais desempenhados por homens e mulheres e as concepções de infância.
Maria Carmem esmiúça, nos próximos capítulos, todas as teses sobre estas variáveis, para chegar à teorização da rotina na educação infantil como categoria pedagógica. Este tópico, claro está, mereceu uma atenção maior da autora do livro, que percorreu desde a história dos caminhos que a rotina percorreu para, como categoria pedagógica, para ser transferida do campo social apara o educacional até a padronização desta rotina.
Ela, a autora, definiu elementos que devem ser considerados para a formulação de rotinas, principalmente no caso da educação infantil. São eles: a organização do ambiente; o uso do tempo; a seleção e as propostas de atividades; a seleção e a oferta de materiais.
A partir daí, Maria Carmem discorre sobre cada um destes elementos, para, no final, concluir que os objetivos iniciais do livro foram alcançados mas em virtude disto outras indagações foram formuladas, tais como: qual é a real função das rotinas, quais as possibilidades de flexibilização das rotinas enquanto ferramenta pedagógica, esta flexibilização depende de que e de quem. Questões que merecem atenção e pesquisa, em especial, dos docentes que atuam com as crianças pequenas, para entenderem e sobretudo, melhorarem a aplicação das rotinas em sua docência.
Eu, tenho opinião que, para se possibilitar uma boa relação com as rotinas, os professores tem que iniciar sua pratica com três pontos: conhecimento e dar conhecimento; organização e planejamento.
E sugiro que usem, como ponto de partida, a leitura deste excelente livro: Por amor e por força: Rotinas na Educação Infantil, de Maria Carmem Silveira Barbosa.
NELSON LUIZ DA SILVA ARAUJO